Bem-vindos ao meu blog.


segunda-feira, 30 de setembro de 2013

CAVALO DE TRÓIA

    Há algumas semanas, no consultório, estava conversando com uma paciente sobre sua dificuldade em controlar a ingestão de doces. A mesma tem baixa tolerância a açúcares, já produz grande quantidade de insulina, à qual já é resistente, está obesa e caminha a passos largos para diabetes franca, já que mais cedo ou mais tarde ou o pâncreas cansa, ou a glicose, que quando alta é tóxica, vence a insulina.Quando a glicose abundante se une a proteínas, reação conhecida como glicação, forma-se um composto que agride a parede dos vasos e as membranas celulares. A glicação é a base patológica das principais doenças relacionadas à obesidade, diabetes e síndrome metabólica. Imagine um carrapicho correndo pelas suas artérias e veias.   É parecido.
   Conversando com ela, tentando convencê-la de que seu estado era delicado, porém reversível, e que sua compulsão por doces era uma atração desequilibrada por algo que a estava destruindo, ela me disse:
    - Ah, doutor, fiquei a semana toda sem comer doces, no final de semana tive uma festa pensei: Quer saber, vou me presentear.
      Presente de grego esse.
     O que nos leva ao título. 
    Presente de grego é uma referência ao cavalo de Tróia, descrito na Ilíada de Homero como um artefato colocado junto aos portões da sitiada, mas resistente Troia. Os troianos consideraram o cavalo um tributo da Grécia, admitindo sua derrota após 10 anos de guerra e abriram os portões colocando o cavalo para dentro. Depois de muita celebração, os troianos foram atacados pelo exército grego , que entrou na cidade graças aos portões abertos por guerreiros que estavam escondidos no cavalo.
    Cavalo de Tróia passou também a dar nome a um vírus de computador que você “convida” a entrar no sistema ao clicar em algum programa contaminado. Uma vez dentro, o vírus faz miséria.
     Não sou contra doces. Minha mãe faz um em toda festa de aniversário da família, parecido com uma palha italiana, que chamamos de “quero mais”. Quem leu o livro sabe que, no exercício da liberdade adquirida pela saúde física ,social e mental, os doces estão no contexto.
     Mas não estou em guerra com o açúcar. Não tenho resistência à insulina. Meu pâncreas não está produzindo rios desse hormônio  para tentar equilibrar sem sucesso a glicose no meu sangue. Não estou obeso.
Se estivesse, jamais faria isso com meu corpo. Enxergaria o doce como um inimigo, e se estivesse tentador, como um cavalo de Tróia. Se eu colocar para dentro, vou me sentir em festa, e depois serei destruído.

    Recupere sua saúde, siga minhas dicas do tratamento pelas raízes, e resgate o direito de recolocar um doce eventual no roteiro de visitas dietéticas, porque o problema não está nos gregos, está na guerra, o problema não está no açúcar, mas na capacidade do seu corpo em processá-lo. Visite os doces e manterá a paz com ele. Torne-o um remédio para ansiedade, frustação, vida amarga, e em breve ele entrará em guerra não declarada com você. Será convidado a entrar, e uma vez dentro, te destruirá. 

sábado, 28 de setembro de 2013

TEMPEROS E BOA VONTADE


Já falamos da diferença entre força de vontade e boa vontade, e como a última é bem mais eficiente na construção de uma identidade saudável.
Apesar de ser francamente a favor das visitas gastronômicas como parte da saúde familiar, social, mental, na maior parte do tempo o nosso corpo precisa de alimentos com pouca gordura, carboidratos que sejam lentos na sua absorção, legumes, e hortaliças para obtermos as fibras, vitaminas e minerais de quem é expert nisso, e ficou ligado à terra absorvendo esses nutrientes para depois generosamente nos ofertá-los.
Então um típico almoço é constituído de uma proteína magra, salada, legumes e um carboidrato como arroz integral. O jantar, a mesma coisa. Entre eles, frutas, iogurtes, cereais.
 - Mas Dr. Gusmão, estou enjoado de comer frango com legumes no jantar.
Vamos lá.
Primeiramente, quem está construindo uma identidade consciente de que o maior prazer é a saúde, chega em casa relaxado porque respirou e meditou ao longo do dia, sem fome porque lanchou frequentemente, beija a família porque o exercício do amor traz mansidão e diminui a ansiedade.
Isso tudo já seria boa vontade.
Agora chegar em casa estressado do trabalho, do trânsito, morrendo de fome, já entrar reclamando de alguma coisa e depois disso comer uma sopa é dose para leão. Como diria Sun Tzu, foi para a guerra sem conhecer o inimigo. Deixou-o monstruosamente forte. Se vencer, será uma vitória temporária, irritante, sacrificante, que só colocará na conta os juros para da próxima vez arrebentar com tudo.
 - Ok, Ok, já entendi. Franguinho com legumes, então...
Ôpa. Olha o título do artigo.
A boa vontade está nos temperos.
Ontem jantei filé de frango grelhado, arroz integral e purê de abóbora.
Gosto. Gosto tanto pelo sabor quanto pelo bem que me faz. Sinto a força embutida naqueles alimentos e quantas alegrias me permitirão viver por ter esse carinho comigo mesmo. O prazer em comer só ligado ao paladar é pouco inteligente, diria até pouco intuitivo. Muitos animais rejeitam determinados alimentos porque ao farejá-los percebem alguma coisa errada. Quando você está comendo alguma coisa vorazmente, joga um pedaço para o cachorro, ele cheira e se afasta, por favor, jogue o resto do seu prato fora.
Mas vá lá, deixa de ser chato Dr. Gusmão. Vamos mudar um pouco.
Que tal ter uma prateleira de especiarias? Muitas delas são além de saborosas, funcionais. Anti-infecciosas e antitumorais como o açafrão da índia e sua curcumina, ótimas para a saúde cardiovascular como várias pimentas e sua capsaicina, isso para não falar do gengibre, canela, noz moscada, açafrão, alecrim, entre tantos...
Uma ponta de colher de mostarda francesa no frango, um pouquinho de curry ou pimenta rosa nos legumes e "voilá"! Parece que o Claude Troigros passou por ali e deixou aquele seu pratinho sem graça uma "marravilha"!
Então não pense duas vezes. Da próxima vez que passar em um supermercado ou delicatessen, conecte-se com o universo dos temperos.
E se a fome é o melhor tempero para a comida...


     A SAÚDE É O MELHOR TEMPERO DA VIDA. 

LANÇAMENTO NA LIVRARIA ARGUMENTO

Queria agradecer imensamente pela noite de ontem, que jamais esquecerei. Espero mostrar-me digno do carinho e confiança de tantos, e expressar  meu forte desejo de prosseguir escrevendo, falando e tratando da saúde dos que entram em contato comigo, pelos canais atualmente disponíveis e por outros que  espero, ainda virão. 

A quantidade de mensagens e e-mails sobre o livro é muito emocionante.

Muito grato. 
                                              Deni, Eu, Tatá, Bu, Xuca e Mami.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

EXERCÍCIOS ABDOMINAIS TIRAM A GORDURA DA BARRIGA?

Célebre pergunta.
Emagrecer tira gordura da barriga, assim como do resto do corpo.
Fazer exercícios é uma das ações necessárias para o corpo emagrecer, ou seja, abrir mão dessa reserva energética estocada na cintura entre outros lugares .

Mas se o estresse estiver alto, fica mais difícil.
Se a alimentação for ruim, improvável.
Se o sono , interrompido, e a hidratação, falha, duvidoso.
Se estiver  tudo errado, pode fazer 3000 abdominais por dia que  a gordura  não te larga.
Agora, vai ficar com uma bela musculatura por baixo da pança. Pena que não vai dar para ver.

Desde 1971, quando pesquisadores da California  evidenciaram que tanto o braço dominante quanto o não dominante de tenistas tinham  o mesmo percentual de gordura, sabe-se que não existe essa estória de perda de gordura localizada.

Está fazendo aula de ginástica localizada? É para a musculatura, e vai fazer o corpo perder gordura como um todo.
Raciocinem. O músculo trabalha à base de glicose. A gordura que está do lado do músculo não vai se transformar em glicose pela proximidade, qualquer reserva de gordura pode  contribuir para energizar aquela contração. Inicialmente  as reservas de glicose do próprio músculo são utilizadas, depois começa a haver também  transformação de gordura em açúcar.

Pessoas que fazem exercícios muito localizados na tentativa de queimar gordura aonde incomoda, acabam recrutando poucas fibras no trabalho. Mas na verdade quanto maior o número de unidades motoras musculares trabalhando, maior o gasto energético, maior a queima de calorias e gordura. Mais importante que isso, é saber que não é na academia que se emagrece. Lá estimulamos a criação de um metabolismo mais quente, rápido, que vai gastar mais energia e perder mais gordura nas horas do dia e da noite em que você NÃO  está na academia.
Vejam:
Sempre que sobram calorias, essas são transformadas em estoque energético estratégico .
O Abdome é um dos pontos geneticamente preferidos para essa poupança se estabelecer. Se forma rapidamente, e é difícil de sair completamente . É a guarda de honra, a última linha de defesa dos economistas do reino metabólico. Dietas radicais tendem a gerar flacidez, cansaço, e se a barriga diminui, nunca some . E quando a dieta enjoa, ela volta em passo doble.

Gerando intensidade, trabalhando muitas unidades motoras, e observando as outras raízes da saúde tratadas no início, suas chances de perder as gorduras localizadas aumentam muito.

Serenidade.
Alimentação saudável  sem neurose .
Hidratação frequente.
Sono restaurador.
Atividade intensa e mobilizadora de um grande número de unidades contráteis. Faça valer cada treino, mostre para seus genes do que seu corpo precisa.

Contra a gordura localizada, saúde generalizada.



VIDEO PROGRAMA SEM CENSURA







quarta-feira, 25 de setembro de 2013

PERCA ATÉ 10 QUILOS EM 1 MÊS



Ahá!!!  Quis logo olhar, não é?
Quem me conhece desconfiou, e quem não me conhece, quis saber.
O título traz uma das inúmeras formas de enganação para se aproveitar do desespero alheio e vender alguma coisa.
E não é só para  emagrecimento:
“Ganhe até 100 reais por dia trabalhando em casa”,
“Aumente sua testosterona em até 800% com uso do suplemento XXX!”
“Queime até 800 calorias por dias com...”.
“Perca até 5 cm de cintura com a cinta...”.
O que tem em comum nessas chamadas?
O até.
Digamos que 500 pessoas usem um suplemento e dosem sua testosterona. A imensa maioria não apresenta nenhum aumento ou o mesmo é irrelevante em relação a um grupo controle, que tomou pílula de farinha e dosou o hormônio. Mas teve um indivíduo, no meio do pessoal, que por alguma circunstância peculiar, teve um aumento de 800%. Pronto, o fabricante se vê no direito de usar uma exceção como propaganda, já que ele não está mentindo quando diz que, se você usar pode ser que tenha o mesmo resultado daquele indivíduo.
Para corrigir essas distorções e dar credibilidade a uma informação é que existe tratamento estatístico.
Colocar os resultados em uma curva, fazer testes de relevância e chegar à conclusão se aquela substância tem ou não eficácia no que se propõe.
Não sei se alguém já ouviu o termo “ponto fora da curva”, mas ele é justamente usado para indicar uma aberração, uma exceção à maioria. Quando dispostos, os dados formam uma curva em forma de sino, ou curva de Gauss, e a aberrância fica fora dela.
Mas, na esperteza da publicidade mal intencionada, é “pescada” e usada como se fosse a mais provável.
Com essa lógica em mente, então, vamos lá:
- Ganhe até 50 milhões de reais jogando na Mega – Sena.
É mentira? Não . Mas é provável? Claro que não. 
Fiquem de olho e não deixem o desespero levá-los às mãos dos picaretas.

Use as capsulas Keimabanha e , em apenas 1 mês, perca 30 dias. 

domingo, 22 de setembro de 2013

O ACARAJÉ E EU

       Meados da década de 70. Meu pai era vivo ainda. Passávamos todas as férias de final de ano em Salvador, com a família de minha mãe, baiana.
        Família típica nordestina, festiva, carinhosa. E grande. Minha mãe tinha duas irmãs e nove irmãos (ela é viva, mas alguns tios já se foram), uma infinidade de primos.
Tinha mais afeição  pelo meu primo Cascão, apelidado assim pela afinidade com os hábitos de higiene do personagem de Maurício de Souza. Cascão tinha sido criado solto nas ruas de Itapuã, e quando eu, garoto urbano de colégio católico passava uns dias por lá, me sentia o próprio capitão de areia.
        Saíamos descalços pelas ruas do bairro baiano, cedo, sem um tostão no bolso.Uma fruta na barraca de Dona Fia, uns pedaços de beiju de coco na tenda de Seu Firmino, e toca pra praia. Passava o menino do picolé, víamos se tinha um “boiadinho”, picolé semiderretido que ninguém mais ia comprar, mas era puro deleite para nós.
        Não sabia o que me excitava mais. Os sabores das iguarias, sobreviver sem dinheiro, a liberdade, o banho de mar com aquela água morninha, a brisa eternizada em canção  de uma tarde em Itapuã...
         Final do dia, íamos à barraca da baiana perto do farol, descolar um acarajé. Ou pelo menos uns pedacinhos de massa, que ela colocava no tacho com dendê fervendo e depois nos servia em guardanapos de papel encerado. Se sobrassem vatapá e camarão seco, aí era completo. Glória, meu Pai celeste,  vixe...
         Outro dia saindo do consultório fui pegar o carro e senti o aroma do acarajé. Procurei e achei uma barraca na esquina, perto da Cobal de Botafogo, onde um baiano, sim, baiano com “O” no final, preparava um acarajé que parecia delicioso.
          Pedi uma prova da massa, entendido que sou, acarajé massudo não como, tem que estar crocante... Estava. Hmmmm, pedi um completo.
          Massa de feijão fradinho descascada , misturada com sal, frita no óleo de dendê fervendo, com vatapá , camarão seco e um tico de pimenta, suficiente para ser notada  mas não muito,  para não anular  os sabores.
         À primeira mordida, mergulhei no meu passado, de olhos fechados, me vi ali em pé, no farol de Itapuã, só de short, pé imundo , sem camisa, pele queimada de sol e esbranquiçada de sal.  
        - DOUTOR GUSMÃO, O SENHOR COME ISSO???
        Abri meus olhos, trazido bruscamente à realidade, e me deparei , ali naquela esquina escondida e até algo escura, com um paciente .
        - Não tinha como explicar naquele momento toda a simbologia daquela refeição, e na verdade nem queria, até porque o acarajé iria esfriar.
         Disse a ele que esclareceria tudo na nossa próxima consulta, mas que naquele momento eu era exclusivo do acarajé. Ele riu meio sem entender, mas felizmente depois tivemos a oportunidade de conversar sobre isso, e até hoje damos boas risadas quando tocamos no assunto .
          Do ponto de vista do Nutrólogo, o acarajé é realmente um quitute complicado. Quase 600 Kcal, fritura na imersão em um óleo que tem muita gordura saturada e fica queimando por muito tempo em alta temperatura, o que aumenta seu potencial inflamatório. Minha consciência ecológica também se incomoda, já que milhares de litros desse óleo são jogados nos ralos e galerias pluviais, quando poderiam ser reciclados em sabão ou  biodiesel.
          Se alguém me perguntar se eu recomendo acarajé no dia a dia da sua nutrição, claro que vou dizer que  não.
          Mas se você for à Bahia, provar um acarajé está no roteiro das visitas gastronômicas que tanto falo que fazem parte de nossa saúde social e cultural.
           Para mim, ainda é muito mais do que isso.
         Tenho um corpo saudável, sou feliz, pratico esportes, creio que possuo  total capacidade de processar um acarajé que me visita trazendo lembranças tão ternas. Estou certo que o bem que o bolinho fez à minha alma, trazendo de volta por alguns mágicos instantes a beleza daquelas minhas tardes em Itapuã, superam em muito a forcinha que meu sistema digestivo há de fazer para gerenciar aquilo tudo. Até porque sabe que no dia seguinte, será premiado como sempre com o que há de melhor para o seu bem-estar .
          Lambi os beiços, paguei, agradeci, e fui para o carro lembrando das areias brancas e das águas escuras da lagoa do Abaeté, do sorriso franco do meu avô Deraldo, do coração infinito de minha avó Maria... Estômago cheio,  coração pleno, alma leve, olhos lacrimejantes e nos lábios um assovio:
- Passar uma tarde em Itapuã, ah o sol que arde em Itapuã...



A ARTE DA GUERRA CONTRA OS MAUS HÁBITOS

Sun Tzu foi um general, estrategista e filósofo chinês que viveu alguns séculos antes do nascimento de Cristo. Seu maior legado foi o livro “A arte da guerra”, um compêndio filosófico/estratégico que, sempre reverenciado na Ásia, ganhou notoriedade na civilização ocidental a partir do século XIX. A sabedoria contida em suas páginas extrapolou os mais óbvios usos militares e passou a aconselhar as mais variadas situações. Se como já dizia Gonçalves Dias: “A vida é luta renhida, viver é lutar”. “A vida é combate, que os fracos abate, que os fortes e os bravos só pode exaltar”, no belíssimo poema "Canção do Tamoio”, nada como um pouco de aconselhamento para nos ajudar a planejar nossa tática para vencer essa contenda.
    Existem 2 passagens em “ A arte da guerra” que aprecio muito, e uso como referência nas analogias que faço para ajudar a compreensão dos caminhos que levam à  saúde:

  1)“Se conheces a ti mesmo e ao inimigo, não te preocupe com o resultado das batalhas. Se conheces a ti mesmo, mas não conheces o inimigo, ganhará algumas e perderás outras. Se não conheces nenhum dos dois, perderás sempre”.

    A grande questão a ser refletida, é quem é o inimigo na luta pela conquista da saúde, leveza, bem estar e felicidade. Seria o estresse? A má alimentação? O sedentarismo? Ou alguma das outras raízes das quais sempre falo?
   Vamos então travar luta contra a inércia, a ansiedade, e outros?
Mas a inércia nos é imposta? A angústia, inevitável? A alimentação desregrada, inexorável? Não sou eu quem se deixa paralisar, quem se entrega à turbulência mental, quem busca na alimentação compensação imediata para meus dissabores? Quem sou eu, então, e o inimigo, senão a mesma pessoa?
- Estava fazendo exercícios, mas torci o tornozelo... (E o resto do corpo?).
- Casei, saí da casa de minha mãe, agora só como fora, não tenho tempo nem sei cozinhar. (Ah, então claro, está condenado a comer fast food, doces e biscoitos até a morte).
- Meu chefe é insuportável, meu trabalho, excessivo, não aguento a tensão... (Aceito, portanto, a inevitabilidade do envelhecimento precoce e da desintegração de meu bem-estar) .
Saiba que ao mesmo tempo em que você quer ganhar a luta, tem uma parte sua que sabota, se entrega, paralisa-se diante das dificuldades, tornando a saúde um território em constante disputa de posse. Por vezes, o susto com o peso, exames, o medo de ficar doente ou perecer, o tornam forte por algum tempo, e há um avanço, mas não uma conquista.
Quer fincar sua bandeira, consolidar sua posse, primeiro vença o inimigo.  Seu lado fraco, preguiçoso, entregue, desanimado, cansado, sabotador.
O que nos leva à segunda passagem que gosto muito no livro de Sun Tzu:


           2)A suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar.

     No livro, dou vários exemplos sobre a diferença de força de vontade e boa vontade. Deixar-se mergulhar em estresse elevado e contínuo, chegar em casa e comer sopa porque está de dieta é lutar. É depender de força de vontade. Um dia vence, outro dia não. Como dizia Tzu, você não conhece seu inimigo ainda.
Se durante um dia difícil você exercita a serenidade, visita momentos de quietude mental, respira, se alimenta bem, porque se ama mais do que por qualquer outro motivo, porque ama sua família, amigos e quer construir muitas e belíssimas memórias junto a eles, então a força será desnecessária, e seu inimigo, derrotado sem luta. Porque ele não chega a criar corpo, forma e potência.
   Não deixe seu inimigo interno fortalecer-se. Preserve-se, tenha carinho e compreensão consigo mesmo e com outros que ainda não têm a sua lucidez. Mas deixe o estresse te dominar, alimente-se mal, não faça atividade física, intoxique-se com a desculpa de compensar-se, não interaja com a família, os amigos  e a natureza, e seu inimigo ficará cada vez mais forte, e a saúde, uma área desocupada.


sexta-feira, 20 de setembro de 2013

OS SISTEMAS E SEUS PROBLEMAS

Visão holística.
Quem leu o livro já sabe que somos mais do que a soma de nossas partes.
E que nossas partes são afetadas por problemas nas raízes de nossa saúde.
Cada macaco no seu galho, e cada galho com seu especialista.
Mas todos os galhos vem da mesma planta, que tem a mesma raiz.
Tenha uma consciência maior de seus sistemas, e dos problemas que mais os afetam quando as raízes da saúde estão comprometidas.  Quando o sono é ruim, o estresse, alto; a alimentação, pobre; o movimento , escasso; a hidratação, insuficiente.
Vamos de cima para baixo:
SISTEMA NERVOSO- Ansiedade, depressão, insônia.
SISTEMA DIGESTIVO-  Refluxo, gastrite, má digestão, intestino irritável, prisão de ventre, gordura no fígado .
SISTEMA CARDIOVASCULAR- Hipertensão arterial, palpitações, varizes , colesterol elevado.
SISTEMA RESPIRATÓRIO - Rinite, tosse, rouquidão, sinusite, gripes frequentes .
SISTEMA IMUNOLÓGICO - Retenção de líquido, inflamações, alergias, infecções recorrentes( herpes, impetigo, furúnculos) , eczemas .
SISTEMA URINÁRIO- Cálculos, infecção urinária recorrente, retenção de líquidos .
SISTEMA OSTEO-ARTICULAR E MÚSCULO-ESQUELÉTICO -  Dor lombar, projeções e hérnias, lesões em joelhos , susceptibilidade muscular à injúria, osteopenia, osteoporose.
SISTEMA ENDÓCRINO - Distúrbios na tireóide, doenças auto imunes, resistência à insulina, diabetes, síndrome metabólica , queda de libido .
SISTEMA TEGUMENTAR - Queda de cabelo, pele ressecada, unhas quebradiças.
SISTEMA REPRODUTOR - Dificuldade em engravidar ou sustentar gravidez, diminuição da fertilidade, queda da libido ( envolvido no endocrino e nervoso também) .

Esses são apenas os problemas mais comuns no dia a dia do consultório. Isoladamente, já são um transtorno, mas combinados então...

Da próxima vez que tiver um sintoma, questione-se sempre sobre a origem dele. A manifestação sintomática geralmente é a expressão de um desequilíbrio mais profundo.

Trabalhe bem suas raízes, e terá menos problemas na periferia.









quinta-feira, 19 de setembro de 2013

CRIANÇAS:MESTRES DA FELICIDADE

Caminhava outro dia desses, indo para o consultório, e à minha frente tive a seguinte visão: Uma moça de branco, provavelmente uma babá, parada na rua com uma das mãos apoiada em um carrinho de bebê, e a outra segurando um celular, onde observava alguma coisa, provavelmente rede social, e um rapaz vindo em nossa direção, também com celular nas mãos, teclando com os dois polegares com destreza admirável.
Quando vejo alguém vindo em minha direção batucando em um celular, geralmente paro e espero, já que aquela pessoa não está conectada à mesma dimensão do que eu, e uma colisão frontal é sempre muito arriscada. Atravessar a rua digitando textos já é proibido em muitas cidades pelo mundo afora, tal a quantidade de acidentes que gera. Dirigindo então, chega a ser pior do que beber.  Já imagino algum tipo de lei seca para isso, onde o policial perguntará:
- O Sr. estava teclando e dirigindo?
- Não Sr. policial, claro que não, imagina.
- Por favor, me acompanhe e traga seu celular. Hmm, quem postou no face há um minuto “Chego em 5 minutos”?
- Não fui eu, foi a Siri, minha secretária eletrônica.
- Amigo, isso só tem no Iphone, esse celular aqui é Hiphone de camelódromo.
- Poxa...mas tem face...
- Silveira! Grita o policial. Leva esse aqui também!  Celular apreendido, multa, curso de educação no trânsito
Mas lá vai minha imaginação me afastando do ocorrido.
Bem, o cara passou, nem me viu encostado no muro olhando para ele, e seguiu em frente.
Aproximei-me do carrinho, e ouvi o som das gargalhadinhas inconfundíveis de uma bebê se divertindo. Sorri para a moça de branco, que deu um micro sorriso daqueles só para não parecer grossa , com o cantinho da boca, e continuou fuçando o celular.
O bebê era uma coisa.
Ria do movimento dos próprios dedos. Toda a vez que mexia as mãos, gargalhava.
Divertia-se com uma das coisas mais simples. Maravilhava-se com o movimento dos seus dedinhos.
Encantar-se com o simples, enxergar beleza no que é comum, é uma lição que as crianças tentam nos ensinar diariamente.
Para nós adultos, os professores, com nossos  cérebros cada vez mais ocupados  e insaciáveis, pedindo excessos e intensidade para não sentirem-se deprimidos e angustiados, aprender a empolgar-se com o que nos cerca , nos provê uma ferramenta poderosíssima contra a ansiedade, a insipidez, contra a percepção da vida em preto e branco.
Quando você chegar em casa cansado e seu filho de três anos falar :
- Papai, olha a formiguinha!!!
Por favor, vá olhar a formiguinha.
Deite-se no chão com ele , e aprecie mais do que a formiguinha, mas o encantamento dele com o simples.
- Filho, o que tem a formiguinha?
- Ela está indo para a casa dela, papai, está levando um troço grandão nas costas, quer dizer, deve estar pesado, né? Olha lá...Será que ela vai conseguir?
Uma formiguinha carregando um micro graveto torna-se uma aventura épica .A de um cidadão de uma comunidade fazendo sua parte pelo bem comum. Mas quando você se mostra insensível ao entusiasmo  da criança, está não só deixando de aprender com o mestre, mas contribuindo para que ele deixe de crer que o que vê é extraordinário. Em vez de se contagiar com a sabedoria  infantil , a contamina com sua insensibilidade, com sua indiferença ao que lhe parece banal.

Quem quer ser um alquimista que transforma ouro em cinzas?  

As pessoas me procuram para emagrecer, controlar a pressão, ter menos dores, parar de sofrer.

Um bom começo?

Aprendam  com as crianças.

Até porque, todos nós em algum momento já fomos mestres, então é só fazer uma forcinha para tirar o pó da frente que nos lembraremos . 

domingo, 15 de setembro de 2013

BRIGANDO COM A BALANÇA


Esse é um termo que ouço com extrema frequência no consultório:

- Doutor, passei a vida toda brigando com a balança...

Quem tem sobrepeso e briga com a balança é como quem tem hipertensão e briga com o tensiômetro, ou quem tem diabetes e briga com o aparelhinho monitor de glicemia.

Está culpando a janela pela paisagem que vê.

Os aparelhos são meros aferidores, que irão refletir o que está se passando na sua vida. Não têm poder nenhum sobre ninguém, e apesar disso quantos evitam encará-los, para não se assustarem com o que verão ? Morrem de medo da balança, nem querem saber quanto está a pressão...

Se ao chegar do trabalho, cansado e tenso, medir a pressão provavelmente vai mostrar um resultado mais alto, experimente permanecer com o aparelho, fazer exercícios respiratórios como os indicados no livro, aguardar 5 minutos e apertar o botãozinho de novo. Garanto que a pressão arterial e a frequência cardíaca estarão menores. Além de prova cabal de que o relaxamento facilita o trabalho cardíaco, pense em quantas vezes ao longo do dia, por não fazer as respirações em momentos tensos, você deixa o coração em um grau de esforço muito maior do que o necessário. Da próxima vez que estiver preso no trânsito, não bufe, respire... Pense no seu coração...

Dormindo melhor, serenizando-se quantas vezes forem necessárias ao longo do dia, mantendo uma alimentação leve e o pensamento otimista e positivo, sua leveza passará de dentro para fora e a balança só mostrará isso como simples aferidora que é... Mude o invisível para mudar o visível.

Se a paisagem está ruim, você tem algumas opções:

- Fechar a janela, não aferindo nada, na verdadeira tática de avestruz, enterrando a cabeça para não ver o que está errado;

- Fazer um esforço enorme para mudar a paisagem, enquanto as condições não ajudam, como por exemplo, plantar flores em solo árido, ou construir decorações que irão desabar com a constante ventania, como uma pessoa que se engaja em regime radical por algum tempo enquanto seu humor, sono, sedentarismo, não são mexidos...

- Construir sua casa em outro endereço.  Com uma bela paisagem, onde a temperatura é amena, o solo fértil, a brisa suave, e abrir a janela, sempre um prazer.


sábado, 14 de setembro de 2013

ACOMPANHAR POR E-MAIL

Para quem quer saber as novidades do blog mas não quer visitá-lo frequentemente para checar se há ou não alguma , existe a opção "seguir por e- mail" , no início da página, Cadastrando seu e-mail, sempre  que  eu postar algum artigo novo ele será encaminhado ao seu endereço eletrônico.

Paulo.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

PRIMEIRO CAPÍTULO DE SAÚDE : O MAIOR DOS PRAZERES



Era uma típica tarde de verão carioca. Quente, abafada, antevéspera do Natal de 1979. Eu tinha 15 anos, estava deitado no sofá da sala vendo TV, e
pelo canto da tela se viam refletidos alguns enfeites da árvore. Estava bem distraído, quase dormindo, passava um daqueles filmes da “Sessão da tarde” sobre Papai Noel, quando ouvi minha mãe gritando o meu nome:
         – Beto, corre aqui! (Beto vem do Roberto de Paulo Roberto.)
Dei um pulo e entrei no quarto dos meus pais, encontrando meu pai deitado imóvel em sua cama e minha mãe o chamando pelo nome, esfregando carinhosamente a mão em seu peito.
Meu pai não reagia.
Aproximei-me, percebi que minha mãe chorava e que meu pai permanecia inerte, com os olhos ligeira e estranhamente entreabertos.
– Meu filho, corre, consegue um socorro, chama alguém, pelo amor de Deus!
Corri até o interfone, liguei para o porteiro, pedi ajuda e voltei para o quarto.
Percebi que meu pai não respirava, então tentei começar a reanimá-lo, fazendo aquilo que tinha visto em filmes... Comecei uma respiração boca a boca, mas achava que se expirasse o ar dos meus pulmões nos dele, meu gás carbônico é que iria entrar, então só enchia as minhas bochechas o mais que podia, com um ar que eu achava que era o mais puro, e soprava através de sua boca. Vi que isso não adiantava, pois seu tórax não se expandia, então depois de umas três ou quatro tentativas, expirei a plenos pulmões. Uma parte do ar saiu pelo nariz, então fechei suas narinas e tentei novamente. Já se passavam cinco minutos quando o sindico do prédio entrou no quarto, começou a fazer massagem cardíaca e disse que tinha chamado uma ambulância.
Meu pai não reagia.
Um pouco de sangue começou a sair da gengiva dele, e achei que eu o estava machucando com minha inexperiente reanimação, então parei... Já se passavam mais de quinze minutos, e minha mãe, em desespero, me mandou descer e ir buscar médicos em uma clínica que ficava a trinta metros do meu prédio.
Antes de sair, encontrei minha irmã, que chorava na sala, e perguntei a ela:
– Será que o papai morreu?
Ela respondeu:
– Nem fala isso, Beto, nem fala isso...
Quando cheguei à portaria, a equipe da ambulância estava subindo as escadas de acesso ao hall dos elevadores.
Aliviado, abri rapidamente a porta, e enquanto estávamos subindo, eles me perguntaram:
– O que aconteceu?
Respondi:
– Acho que é um infarto...
Aluno aplicado de biologia que sempre fui, tinha que escolher o termo técnico... Argh! Bem, minha intenção ou pretensão era ajudá-los a perder menos tempo, já que eu sabia desde criança que meu pai tinha problemas cardíacos e realmente achava que se tratava de um infarto.
Eles balançaram a cabeça...
Assim que entraram no quarto, a primeira coisa que fizeram foi tirá-lo da cama e passá-lo para o chão, coisa que só vim a entender anos depois, quando estudando reanimação descobri que a massagem cardíaca não é eficaz quando a pessoa se encontra em uma superfície flexível como a de um colchão.
Começaram as compressões torácicas, a ventilação com uma bolsa ligada a uma bala pequena de oxigênio, prepararam soro, desfibrilador.
Meu pai não reagia.
Fecharam a porta, e longos 15 minutos se passaram antes que a abrissem novamente.
Um dos rapazes da equipe me olhou cabisbaixo, botou a mão em meu ombro, e disse-me que sentia muito.
Meu pai havia falecido.
Meu pai era um sujeito sensacional, inteligente, de caráter impecável, austero e por vezes até severo, porém sempre carinhoso e muito atento com os valores que deveria passar para os filhos.
Mas era negligente com a própria saúde.
Fumante por trinta anos, só parou quando já estava gravemente hipertenso e com um infarto aos quarenta anos de idade na bagagem. Sedentário, quanto mais fraco ficava o coração e mais sofrido era cada esforço, mais parado ficava. Dormia tarde, acordava tarde, reclamava do intestino, passava o dia comendo pouco ou nada, beliscando um pãozinho ou biscoitinho, e de noite comia seu famoso bife acebolado com arroz ou purê de batata. Não me lembro de ver meu pai comendo um legume, uma fruta, uma salada. Não me lembro de meu pai saindo para se exercitar. Recordo-me, sim, do medo que ele tinha de morrer e nos deixar precocemente, perdidos sem sua orientação, mas infelizmente hoje vejo que esse medo também o paralisava e o impedia de fazer o que era possível para melhorar suas chances. Tinha medo de se aborrecer (se “aporrinhar”, como ele dizia), de a pressão subir, de ir fazer exames e os médicos descobrirem alguma coisa, tinha medo de ser internado, tinha medo...
Emociono-me com as memórias que construí com ele, como me incentivou à leitura, sempre trazia novos livros (e brinquedos, claro), meu quarto era praticamente uma biblioteca. “Tesouros da juventude”, “Moby Dick”, “O Conde de Monte Cristo”, “Robinson Crusoé”, “Os três mosqueteiros”, a obra infantil completa de Monteiro Lobato, de Júlio Verne – meu pai, um fanático por ficção científica.
Ficava ao meu lado enquanto eu lia, engajado ele mesmo na leitura de seus autores favoritos, Arthur C. Clarke, Kurt Vonnegut , entre outros, sempre pronto para tirar minhas dúvidas, me explicar o significado daquelas novas palavras, daqueles novos mundos. Era meu dicionário, amoroso, ali pertinho de mim, assistindo e incentivando o que eventualmente acabou se tornando um grande valor para mim, a leitura. Fez-me amar os musicais de Hollywood, encantar-me com a leveza de Fred Astaire e Ginger Rogers, com as traquinagens de Mickey Rooney, com a beleza estonteante de Ava Gardner e Rita Hayworth, rir dos filmes mudos com Chaplin, Buster Keaton, e vibrar com o Robin Hood de Errol Flynn. Deixou-me fã do Tarzan de Weissmuller, do Flash Gordon, do gibi... Incentivou-me também na música, ele que enquanto tinha fôlego tocava uma gaita harmônica de primeiríssima qualidade. Deu-me minha primeira guitarra. Os meus últimos presentes daquela árvore do Natal de 1979 foram um metrônomo, para ajudar no ritmo das minhas aulas musicais, e um encordoamento importado para minha guitarra.
Grande incentivador em relação a tudo que fosse ligado à cultura, também se preocupava em forjar meu caráter, pelo exemplo e pelas lições (e às vezes pelas broncas), sendo sempre correto, honrado, honesto, solidário, aplicado, carinhoso e companheiro.
 Meu pai era leve, mas tinha uma barriga imensa, típica de quem come muito de uma vez só à noite, uma barriga que assustaria qualquer cardiologista, mas que naquela época para mim era um almofadão cheiroso (como era perfumada e lisinha a barriga do meu pai), onde me aninhava e dormia... Gostava de apertar e cheirar aquela barriga, principalmente logo que ele saía do banho, e me sentia como quando apertamos e cheiramos nosso travesseiro preferido. Era o cheiro do meu pai... Eu adorava colocar seus discos prediletos e depois me deitar com a cabeça naquela barrigona, feliz ao ver seu pezinho batendo ritmado no compasso da orquestra...
Ria com ele com os discos de Chico Anysio e Juca Chaves – apesar de serem um pouco pesados para minha idade, ele deixava. Por vezes, eu nem entendia a piada, mas adorava vê-lo feliz, rindo. Bem, mais tossindo do que rindo, o que naquela época para mim era normal, mas de fato já alertava para a gravidade dos problemas cardíacos.
 Meu pai herói, militar treinado que um dia matou com um tiro de rifle um morcego que entrou no meu quarto! Deu a ordem para que eu me escondesse debaixo da cama de minha mãe, tirou o rifle do armário, e alguns segundos depois, ouvi o estampido...
– Beto, pode vir!
Excitado, fui ver o corpo do morcego, os despojos da batalha épica... Nossa, que orgulho de ser filho do meu pai!

Perder meu pai não foi nada fácil.

Durante muito tempo me perguntei se não teria ingressado na medicina para aprender o que deveria ter feito para salvar meu pai... Nunca me culpei, era apenas um adolescente, mas hoje vejo claramente que a questão não era o que eu poderia ter feito no dia em que ele morreu, mas sim o que ele poderia ter feito enquanto viveu.
Tive a oportunidade durante minha carreira de participar de várias reanimações. Algumas bem-sucedidas, outras não. Minha formação inicial como anestesiologista me possibilitou atuar em momentos críticos e de alta responsabilidade, fossem eles ressuscitações cardiorrespiratórias, fossem outras situações de emergência, por incontáveis vezes.
A essas alturas, poderia me sentir mais realizado, e se não podia voltar para salvar meu pai, certamente salvaria outras vidas. Mas por algum motivo, algo me faltava.
Sentia-me ainda frustrado como médico. Participava de forma importante, mas muito breve, na vida daquelas pessoas, e não me considerava  útil na promoção da saúde delas, apenas no tratamento de suas doenças. Quando ingressei na nutrologia, já com dez anos de atuação médica em anestesiologia, estava inspirado por uma meta diferente, e depois de algum tempo ficou clara para mim a minha real vocação dentro da medicina.
Não quis ser médico para aprender a “ressuscitar meu pai”. Quis sê-lo para ajudar a mudar a trajetória de tantas pessoas que também negligenciam sua saúde e que podem interromper sua história nessa vida prematuramente, ceifando de seus entes queridos as memórias que ainda teriam para criar. Sim, tenho e entesouro as minhas, mas gostaria tanto que meu pai pudesse ter acompanhado por mais tempo minha doce mãe, que tanto o amava que jamais quis outro homem em sua vida; ter visto a filha crescer e se tornar doutora, ter assistido a suas brilhantes defesas de tese; ter convivido com seu neto sensível e amorosíssimo; que conhecesse minha linda e querida esposa, também fã dos ícones dos anos 40 e 50; que comesse as saladinhas maravilhosas que só minha enteada faz; que pudesse ter longos papos comigo sobre tudo... Sinto falta tanto das conversas que tive quanto das que deixei de ter, tanto que por muitos anos após ele falecer, nas minhas orações noturnas, separava um tempo para bater papo com ele, e imaginar o que ele responderia de volta. Como gostaria que ele estivesse aqui...
Mas não pôde ser assim. Ele já não está conosco há mais de trinta anos. Morreu jovem, aos 56 anos de idade, antes que pudesse compartilhar nossa história, antes que pudesse ser um personagem atuante de nossas aventuras...

Afinal, podem perguntar, o que eu quero contando isso tudo?

Meu objetivo com este livro não é ensinar alguma dieta milagrosa, nem prometer a perda de dez quilos em trinta dias ou 10 cm de abdome em dois meses.


Meu objetivo é inspirar você, leitor ou leitora, a cuidar da sua saúde, para que tenha a oportunidade de viver e aproveitar uma vida longa e plena, escrevendo sua história familiar, profissional, social, deixando memórias eternas no coração dos que conviveram com você, dos que o amaram, o tanto e o quanto a vida assim permitir.

ONDE ENCONTRAR O LIVRO

Para quem está no Rio, a Livraria Argumento do Leblon, na rua Dias Ferreira 417 , e a do Rio Design Barra, já tem meu livro em estoque.
Na filial do Leblon haverá uma celebração de lançamento dia 27/09 sexta-feira, a partir de 19 h, estão todos convidados.

Para quem não é do Rio, segue disponível no site da editora:

http://www.allprinteditora.com.br/saude-o-maior-dos-prazeres

Agora também no site da livraria Cultura, em www.livrariacultura.com.br, por encomenda. De outubro em diante, em estoque. 

XVI BIENAL DO LIVRO










OS EXAMES DE ANGELINA



            Recentemente, no meu livro “Saúde: O maior dos prazeres” abordei a coragem e o comprometimento de uma linda e famosa atriz de cinema que, confrontada com um risco muito alto de desenvolvimento de câncer mamário, preferiu fazer uma cirurgia preventiva a conviver com a ameaça de interromper sua trajetória na vida cedo demais, antes que pudesse construir e vivenciar tudo o que queria e podia, antes que partilhasse sua existência, sabedoria e experiências pelo maior tempo possível com seus filhos. “Não quero privá-los (os filhos) da convivência com a mãe deles”, foi uma das frases utilizadas.
Comentei também sobre a inacessibilidade desses exames para a maior parte da população.
De lá para cá, tem sido frequente no consultório os pacientes pedirem “os exames que a Angelina Jolie fez”.
Bem, já é de praxe, ao perguntar sobre exames laboratoriais, que os pacientes digam:
            - Pede tudo doutor, check up completo!!!
Levando isso em consideração, achei pertinente escrever um artigo para tentar jogar um pouco de luz sobre esse assunto.
Em primeiro lugar, quando um médico pede exames complementares, a sua intenção deve ser a de corroborar ou diferenciar uma impressão gerada pela entrevista e exame físico. Validar um diagnóstico, visando planejar um tratamento.
Pedir “tudo” me lembra duma piada muito contada no meio médico:
Um clínico geral, um anestesista e um cirurgião saem para caçar patos.
O Clínico volta porque fica indeciso se aquilo que viu é um pato, um marreco, um cisne, e na dúvida prefere não fazer nada.
O Anestesista considera que o vento está desfavorável e suspende a caçada.
O Cirurgião atira com uma super escopeta derrubando uns 50 pássaros, e ordena:
- Mandem tudo para o patologista, o que for pato a gente leva.
Bem, que meus colegas não me crucifiquem, já devem ter ouvido a piada, e eu como anestesista de formação me permiti contá-la, já que estou inserido no contexto.
O que quero dizer é que tirar quinhentas amostras variadas de uma pessoa, urina, fezes, sangue, saliva, submeter o paciente a exames de imagem, alguns com exposição radiológica ou com administração de contrastes potencialmente alergênicos, para ver o que aparece, não está certo. Esse inclusive é um dos motivos pelos quais os planos de saúde aumentam as mensalidades dos pacientes e diminuem os honorários dos médicos. Estão gastando muito com exames, muitas vezes desnecessários.
Agora está  na moda pedir painéis de leitura genética, com coleta de saliva ou de raspado da mucosa interna da bochecha, mandar para algum país e depois acumular um enorme número de informações que podem causar mais mal do que bem. O exame em si não causa prejuízo à saúde física, mas as possibilidades que ele apresenta podem fundir a cuca de muitos. Saber que há risco aumentado de uma doença genética grave, potencialmente fatal, sobre a qual não há nada a fazer quanto à prevenção, e que pode muito bem jamais se manifestar, causa transtorno emocional intenso, angústia, e benefício zero.  Outras vezes, saber que há maior chance de diabetes, hipertensão, obesidade, vai levar o médico a fazer as mesmas recomendações gerais que faria a qualquer pessoa: Alimente-se bem, evite os excessos, pratique atividade física, gerencie o estresse, etc...
Claro que essa é uma área promissora e existem casos onde a utilização dessa sofisticação está bem indicada e fornece informações valiosas para o tratamento, mas o que se vê é uma disseminação entre a camada mais abastada da população de requisições nesse sentido, querendo mapear seu genoma, e colecionar informações que na maior parte das vezes não só serão inúteis, mas fontes de ansiedade.
Vem-me à mente camisetas e adesivos para carro: “Nunca fui a San Diego, mas minha saliva está lá”.  “Não conheço a Turquia, mas estão medindo minha telomerase em Istambul”, “Ah, adoraria conhecer Barcelona, pelo menos meu sangue conhece , foi descobrir quanto tem de Ômega 3”.
Então vamos falar sério.
Querem saber sobre os exames da Angelina, vamos lá.
Existem 2 genes, BRCA 1 e BRCA 2, que estão ligados à produção de proteínas reparadoras de material genético. Quando o DNA das células sofre dano, essas proteínas ajudam na reconstrução e por isso na manutenção da estabilidade do material do núcleo das células. São, portanto, consideradas supressoras de tumores. Avarias no DNA não corrigidas levam a mais lesões, e a alterações que podem modificar as células, que deixam de ser funcionais e passam a ter comportamento cancerígeno, parasitário. Não fazem nada, só consomem e se multiplicam.
Mutações nos genes BRCA 1 e BRCA 2 estão ligadas ao aumento da probabilidade de desenvolvimento de câncer de mama e ovário. Se 10% das mulheres vão desenvolver câncer de mama em algum momento de suas vidas, essa estatística quintuplica nos casos de mutação de BRCAs. Quanto maior o número de portadores de câncer de mama jovens na família, maior a probabilidade de mutação nos BRCAs estarem envolvidas. Pesquisa mostra que famílias com mais de 6 casos de câncer de mama tem 80% de chance de os mesmos estarem ligados às mutações nos BRCAs.
A Questão é que existem muitos outros que não são ligados a esses genes.
O exame de Angelina foi bem indicado, levando em conta seu histórico familiar.
Quando então caberia pedir os BRCAs?
            - Múltiplos casos de câncer de mama familiares;
            - Um familiar com tumor de mama e ovário ou mais de um câncer de mama;
            - Casos de câncer de mama em homens da família (sim, isso existe).
No Brasil, poucos laboratórios fazem esse exame. Nele, a amostra do DNA vai ser testada para as principais mutações, e isso custa em torno de 3 mil reais. Para fazer um mapeamento completo de todas as possíveis mutações, o custo passa dos 20 mil reais.
O mais recomendado é, em caso de haver alguém com câncer de mama na família, que seus genes sejam estudados, e achando a mutação, seus parentes sejam testados apenas para aquela mutação, o que vai baratear e simplificar o exame.
Mas e se der positivo?
Se der positivo há aumento de risco, e isso vai ser mensurado de acordo com outros fatores. Existem alternativas, como fazer exames mais frequentes visando detecção precoce, alternando ressonância magnética e mamografia para não expor demasiadamente um paciente já suscetível à radiação, fazer tratamento profilático usualmente com tamoxifeno, ou fazer como a Angelina, que após um aconselhamento com geneticista chegou à conclusão que o mais seguro seria a cirurgia, retirando a glândula.
E se der negativo?
Isso é um alívio, mas não uma garantia. Permaneça consultando-se regularmente com ginecologista ou mastologista, faça sempre o autoexame de mama e mamografias periódicas.
Espero ter clareado um pouco esse assunto. Na dúvida, pergunte ao seu médico, e muito cuidado com as consultas no Dr. Google. Um paciente meu certa vez colheu exames 1 dia depois de correr uma meia maratona. Suas enzimas musculares estavam obviamente altas após o esforço, e assustado, foi pesquisar na Internet onde ficou convencido de que estava enfartando. Só quando falou comigo, se acalmou.
Ninguém merece.

Quanto a mim, se o Clark Kent aparecer no meu consultório com dores de cabeça, náuseas, acho pertinente pedir a dosagem de kriptonita urinária, mas pelo que li nos quadrinhos esse exame só é realizado no laboratório Lexcorp de Metrópolis. E só aceitam urina ou saliva já que afinal, como é que faz para colher sangue do Super-Homem?


SAÚDE: O MAIOR DOS PRAZERES


O livro foi escrito motivado pela minha preocupação com a situação e o rumo da saúde da humanidade.

Após anos de experiência e mais de 2 mil pacientes, consolidei a percepção de que a maior parte das queixas relacionadas à saúde ou à estética estava ligada aos maus hábitos de vida, e que esses vinham sendo gerados por um crescente distanciamento das simples e boas práticas   que trazem bem-estar e saúde ao corpo humano.

Através de uma narrativa proseada, informativa, alternando apelos emocionais com outros mais leves e bem humorados, tento convencer o leitor a redescobrir o simples, a resgatar a serenidade que vem sendo perdida frente a um mundo progressivamente imediatista, impaciente, de demandas cada vez mais volumosas.  Tento mostrar que o estresse, o sedentarismo, a má-alimentação, entre outros, são raízes do mal-estar e de doenças, e a incidência alarmante e crescente da obesidade, hipertensão e problemas cardiovasculares; da ansiedade, depressão e dores crônicas; levam paradoxalmente à procura de gratificações que na verdade fomentam mais ainda o mal estar. Geram abusos químicos, inércia, dependência de prazeres sensoriais intensos para mitigar uma sensação de infelicidade, ansiedade, angústia, fadiga, induzem a busca do doce para aliviar a amargura, a ansiedade, do sal para dar sabor ao insosso, ao sem tempero.  Fugas de uma vida insípida, incolor...

Em um momento que o ser humano busca em medicações, regimes radicais, procedimentos e exames sofisticados o alívio dos seus males, proponho através do livro um olhar mais simples e holístico. A sofisticação está ao nosso dispor quando necessária, mas partamos do básico primeiro. Cuidemos de nossas raízes antes de procurarmos artificialmente maquiar as folhas, perfumar as flores, endireitar os galhos.

Saúde: O Maior dos prazeres tem como objetivo mostrar que a conquista da saúde não é uma abdicação dos prazeres, uma privação das vontades, uma abstinência espartana, e sim o caminho para o encontro com uma existência plenamente prazerosa, dinâmica, repleta de satisfação, amor e leveza.

Uma vida saborosa e colorida.


Feliz.