Para quem acompanha o blog, vou adiantar um pedido que fiz no programa do Jô ( não é a tal surpresa do final, que permanecerá surpresa).
Na conclusão do meu livro, digo que muitas estórias e informações ficaram de fora, perguntas frequentes no consultório não foram respondidas.
Ontem, enquanto aguardava ser chamado para o estúdio de gravação, fui até o camarim do pessoal do Biquíni Cavadão, e assim que entrei fui metralhado com perguntas:
- Comer fibra demais prende ou solta?
- Azeite na frigideira faz mal pra saúde?
- O que é melhor, manteiga ou margarina?
E por aí foi...
Isso me deu a idéia para meu próximo livro.
Quase sempre, no final da consulta , falo : - " Está bom?" e o paciente responde: - " Só mais uma dúvida, Dr..."
Logo antes do programa criei o endereço de e-mail drpgusmao@globo.com e disse no ar que meu próximo livro se chamaria : " Só mais uma perguntinha, doutor...". O Jô gostou muito do título e da ideia.
Pedi aos telespectadores que mandassem suas dúvidas para o e-mail divulgado, do qual selecionarei 100 a 150 questões para montar o livro.
Então, em primeira mão, peço aos leitores do blog que comecem desde já a enviar suas perguntas para darmos início a essa obra compartilhada.
P.S.- Descobri que um Dr. Tom Smith publicou um livro cujo título em inglês era " Doctor , have you got a minute ? " e em português ficou sendo " Doutor, só uma perguntinha...".
Tradutor danado... De : Doutor, o Sr. tem um minuto? Para isso... Vou ver o que fazer.
Mania de tradutor brasileiro, essa licença poética. Por isso que " The sound of Music" virou " Noviça rebelde", " The Graduate" passou a ser " A primeira noite de um homem" e " The Godfather" assumiu a alcunha de " O poderoso chefão", entre tantos outros exemplos.
Bem-vindos ao meu blog.
terça-feira, 22 de outubro de 2013
PROGRAMA DO JÔ
Foi mágico, sensacional, um encontro inesperado entre meu passado musical e meu presente médico/literário.
Imperdível, com direito a grande surpresa no final.
IRÁ AO AR DIA 05 DE NOVEMBRO.
Imperdível, com direito a grande surpresa no final.
IRÁ AO AR DIA 05 DE NOVEMBRO.
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
PRINCÍPIO DA SOBREPOSIÇÃO QUÂNTICA E SAÚDE
Não deixem o título assustá-los. Não
sou expert em mecânica quântica, não sou físico ou filósofo, mas no sentido
geral de entreter, informar e motivar, dessa vez vou me arriscar um pouquinho.
O mundo quântico, das partículas
subatômicas, dos fótons, elétrons e outras coisinhas bem pequeninas, parece ter
regras que diferem do cenário clássico descrito pelas leis de Isaac Newton.
Nesse micro mundo quase mágico, um elemento
pode se comportar como partícula ou como onda, pode estar em dois lugares ao
mesmo tempo, e pode também ser duas coisas diferentes no mesmo instante.
Um físico chamado Schroedinger, para
explicar uma dessas esquisitices, que ficou conhecida como sobreposição
quântica, apresentou um modelo experimental onde um gato trancado em uma caixa
com um frasco de veneno que seria quebrado caso determinado movimento molecular
dentro da caixa acontecesse , estaria, até que a mesma fosse aberta e alguém
observasse o que aconteceu, vivo e morto ao mesmo tempo.
Como digo no livro acho que as
sofisticações existem para nos ajudar quando é preciso e acho ótimo que existam
mentes brilhantes desenvolvendo equações gigantescas para descobrir de forma
compreensível as grandes perguntas do universo. Mas um pescador feliz da vida e
que nunca ouviu falar do gato do Schroedinger me ensina tanto ou mais do que o
físico austríaco.
Mas vamos lá, tentar unir os dois:
Do ponto de vista prático, nosso
mundo é plástico, no sentido de ser moldável. Nossa realidade não é imutável, longe
disso, e estar infeliz é na maioria das vezes o resultado de uma sequência de
más escolhas ou de nenhuma. Nosso livre arbítrio não é gerenciado pelo
determinismo e lógica, senão não seríamos humanos, e sim vulcanos. O mundo das
escolhas é quântico.
Imagine seu presente e suas ações e
decisões como fatores modificadores de seu futuro, e à medida que escolhe A ou
B, uma metamorfose de sua realidade vai se processando à sua frente.
Ficar sofrendo, paralisado, mantendo
a mesma rotina, no entanto, aumenta muito a probabilidade do futuro não se
modificar.
O que nos remete à conversa sobre identidade.
Muita gente que ainda está com exames
normais, não sente nada, não usa remédio nenhum, mas vive nos excessos, em uma
identidade irresponsável, apresenta um momento de sobreposição de uma personalidade
negligente com as necessidades do corpo, mas um organismo que ainda resiste aos
abusos. Como na mecânica quântica, esses estados dissociados não perduram e
mais cedo ou mais tarde, corpo e identidade confluirão.
Por outro lado, se uma pessoa que
está com problemas de saúde toma a decisão de mudar seus hábitos e vivenciar
uma identidade saudável, teremos um momento de sobreposição onde ao mesmo tempo
coexistem saúde e doença. Nesse caso o
corpo se transformará para confluir com a identidade saudável criada.
Já vi essas transformações
acontecerem e é maravilhoso. Um rapaz de 16 anos com 110 kg, múltiplos
problemas psicológicos adotar uma identidade saudável e ver seu corpo mudar,
seu exames normalizarem, sua mente ficar leve, a felicidade fazer parte de sua
vida, seu futuro se transformar como um punhado de argila na mão de um
talentoso escultor.
Algumas vezes, vejo o brilho nos
olhos de alguém saindo do consultório, inspirado, motivado, com o firme
propósito de parar de sofrer e tornar sua vida mais feliz, e enxergo nesse
momento uma sobreposição quântica. A essência saudável e o corpo doente em
coexistência.
Renovar esse brilho diariamente é
transformar o mágico em real.
É sair da caixa de Schroedinger e mostrar ao mundo:
Estou vivo.
terça-feira, 15 de outubro de 2013
SAINDO DA DIETA
Quem leu o
livro ou já se familiarizou com os escritos do blog, sabe que dieta não é
regime alimentar, é forma de viver, e que sou totalmente favorável a uma alimentação
que priorize o que o corpo precisa mas transite através de paladares variados
como parte do exercício de sua liberdade, saúde social, mental, cultural.
Hoje uma
paciente me disse que saiu da dieta. No final de semana, com a família, tinha
comido um pedaço de pizza.
ISSO NÃO É
SAIR DA DIETA.
Celebrações,
viagens, encontros familiares, românticos, entre outros, apresentam variações
alimentares ao que tradicionalmente se busca para o bom funcionamento orgânico.
Mas o fato de uma refeição nesse cenário não ter uma proteína magra, ou um
carboidrato complexo, ou salada ou legumes, estar mais carregada em açúcar ou
sal ou mesmo gordura, não impede que a mesma seja usufruída como parte de um contexto
saudável.
O PROBLEMA
NÃO É O ALIMENTO, É O COMPORTAMENTO.
Sair da
dieta não é tomar um sorvete com o filho em um domingo, ou comer pipoca com a
namorada no cinema. Sair da dieta é abandonar sua vida saudável e buscar o
excesso, principalmente quando ele tem a conotação de gratificação,
compensação, forra. Ué, se está feliz, leve, com bem-estar, está indo à forra
de quê? Está compensando alguma
carência? Qual?
Quem mantém
esse discurso de sair da dieta não criou identidade, está interpretando papel,
sendo personagem. Quem fala em escapulida, escapada, pulada de cerca, fugida, considera a vivência de hábitos saudáveis uma sentença, e os excessos , prazeres.
Se a saúde para você é um sacrifício,
e é nos excessos que encontra prazer, por favor, comece de novo, do primeiro escrito do
blog. Leia o livro, repense, e depois conversamos novamente.
domingo, 13 de outubro de 2013
IDENTIDADE OU PERSONAGEM?
Admiro os atores que conseguem
interpretar personagens completamente distintos de suas personalidades na vida
real. Afinal, é bem mais fácil desempenhar um papel quando as características
do personagem e do artista são similares. O grande desafio é o de um ator
gentil interpretar um sádico vilão, ou uma atriz tímida fazer o papel de uma prostituta
lasciva.
Mas são profissionais. Estudam e se
preparam por muito tempo para isso.
A composição de um personagem pode
levar meses: O gestual, o modo de falar, o olhar, por vezes nos bastidores de
uma gravação vemos alguém sair e dizer que o ator tal já acabou de gravar, mas “ainda
está no personagem”.
Muitas vezes, no consultório, ao
entregar um cardápio, rotina de exercícios e hábitos para um cliente me sinto
como se estivesse entregando um roteiro. Não gosto quando me sinto dessa forma.
Dá-me a impressão que estou passando as características de um personagem que
quero que o cliente interprete durante a duração do tratamento.
Mas e depois de terminadas as “gravações”,
como ficaremos?
O “artista” sairá do personagem e
retomará sua identidade original?
Insisto, portanto, que o tratamento
passe não por uma interpretação do papel de uma pessoa saudável, mas pela
construção de uma identidade conectada à saúde.
Não há sustentabilidade nos benefícios
recebidos pela interpretação de um papel, motivado por medo, estética ou outro.
Quando algum peso se perder, quando o desconforto passar, o artista encerrará a
performance.
Olhe para si mesmo.
Se sua vida é predominantemente
estressante; se sua atividade física, inconstante ou inexistente; e se sua
alimentação, caótica; imagine um filme onde você está desarmando uma bomba e
corta o fio errado. A bomba não explode, mas o tempo do cronômetro até ela
explodir passa a rodar muito mais rapidamente.
Então, em vez de uma pessoa cuja
identidade está conectada ao movimento, ao gerenciamento do estresse e à
alimentação, e que tem tempo, teremos um desesperado, correndo e gritando: “Vai
explodir, vai explodir!!!”.
Já vi desempenhos dignos de Oscar,
pessoas que estavam em pleno exercício da alimentação, movimento, bem estar
elevado, exames normalizados, mas depois de um tempo via-se que tudo não
passava de uma inconsciente encenação.
Seja sincero e honesto consigo mesmo.
Abandone definitivamente e sem olhar
para trás o comportamento ansioso, compulsivo, ligado às gratificações compensatórias,
elementares, primitivas, o sedentarismo, e comece a construir uma sólida
IDENTIDADE na saúde. SEJA aquela pessoa, leve-a para todos os lugares (até para
aquele resort all-inclusive no Caribe). Até porque, mesmo só, estará muito bem
acompanhado.
Alimente-se do que seu corpo precisa,
e visite as gastronomias dos eventos sociais, familiares, românticos,
culturais.
Conecte-se ao movimento, e sempre que
possível gere ação física, de preferência visitando seus limites para manter
seu corpo sempre interessado em ter reserva.
E para cada jornada na intensidade de
uma tarefa, um mergulho na serenidade da quietude mental.
Deixo ao seu livre arbítrio a decisão se fará do acima
descrito o roteiro de um personagem, ou algumas das características de sua
identidade, de quem você É.
sexta-feira, 4 de outubro de 2013
O CARA-PÁLIDA E A NATUREZA
Em 1996, fiz um “workshop” em uma casa na Gávea sobre o
efeito curativo das plantas. Foi ministrado por um índio Tchucarramãe chamado
Kaká Werá.
Cheguei lá
ávido pelo conhecimento, para aprender que planta servia para que doença, estava ansioso.
Realmente aprendi muito, só não foi como eu
imaginava.
O índio começou a falar, e sua
sabedoria invadiu o jardim onde estávamos reunidos. Disse que, em primeiro
lugar, para aprender a lidar com as ervas e raízes como índios, precisaríamos
aprender a ver a natureza como eles.
Com reverência.
O pajé era um ser de grande
sabedoria, respeito e responsabilidade na tribo, e sua postura perante a
natureza é aquela de um discípulo perante seu mestre. O homem branco acha que a
natureza está ali para servi-lo, ele que se apossa de tudo, se acha dono dos
rios, das matas, dos céus. Como disse o chefe Sioux Tatanka Yatanka ao
presidente americano Franklin Pierce na imperdível carta de Touro Sentado, “... Como podes comprar ou vender o céu - o calor da
terra? Tal ideia nos é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do resplendor da
água. Como podes comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre o nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as
praias arenosas, cada véu de neblina nas florestas
escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na consciência do meu povo. Sabemos
que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele
um pedaço de terra é igual a outro. Porque ele é um estranho que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, mas sim sua
inimiga, e depois de explorá-la, ele vai embora”.
Kaká nos explicou que para obter o poder curativo das
plantas, era preciso ser digno, honrado, humilde e agradecido perante uma força
tão infinitamente maior que nós mesmos.
Isso me derrubou das minhas bases de cara-pálida possessivo,
dominador, arrogante, presunçoso.
Fizemos uma dança, na qual além de batermos no nosso próprio
peito, valorizando nosso ego de guerreiros, dançávamos de joelhos dobrados,
demonstrando humildade perante a natureza.
Depois disso, nos ensinou a pedir licença à mãe terra para
colher as plantas, e a cada colheita seguia-se um sinal de respeito, de gratidão.
A preparação das ervas e raízes, das tinturas e dos extratos
era feita em uma cuia que simbolizava o útero, e com um pilão, representante
fálico daquela fecundação da qual nasceria uma substância com poder curativo.
Saí desse final de semana transformado e nunca mais olhei
para uma planta do mesmo jeito.
Para mim, todas as plantas são projeções dessa força imensa, a
qual devo reverência, respeito e gratidão.
Quando saio pelas ruas, é comum me ver passando a mão pelas
folhas de arbustos, árvores e plantas que encontro pelo caminho.
Como os lutadores que quando entram no estádio vão passando a
mão pelos expectadores, trocando energia, cumprimentando, vou fazendo “High-five”
com minhas amigas.
Quando estou estressado ou chateado, geralmente sento no
banco perto do consultório e fico segurando uma folha ligada à terra, como que
em contato com a sabedoria do simples, de um ser pleno em sua função no planeta e
que no entanto precisa de tão pouco.
Uma vez um colega riu de mim, achando aquilo ridículo.
Respondi:
- Digamos que você é apaixonado por Maria. Mas seu amigo
Pedro tem indiferença por ela. A simples presença de Maria próxima a você lhe
causará embrulho no estômago, nervosismo, taquicardia, reações físicas. Maria ,
no entanto, pode sentar no colo de seu amigo Pedro e nada disso ocorrerá. Então,
só porque você infelizmente é indiferente à força das plantas, não me diga que
o efeito que sinto ao tocar nelas é besteira. O que sinto é real.
Estamos cercados (ainda) pela natureza. Como sentir-nos sós e
desamparados, com tantos seres sábios, generosos, plácidos e prontos para nos
dar as mãos?
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